domingo, 3 de maio de 2009

poesia




Liberdade de amar

O que os olhos não vêem
O coração sente.
O que os olhos sentem
O coração esfacela.
Em cinzas a paisagem
Os olhos ferem.
Tal gozo profundo
De um amor sonhado
Ao luar se acalma.

A ausência do amor
Faz a tempestade
Descontrair os olhos
E ferir o coração.
A completude do amor
Incendeia os olhos
E reclama ao coração
A dor que não fere.

O que para o coração é brilho
Aos olhos faz sombra.
Se para os olhos não há regra
Ou exceção
Efêmero faz ao coração.
Se para o coração há sempre espinho
Seduz aos olhos a emoção de viver.

Quem ama por gosto
Ou finge amar sem dor
Roga aos olhos um minuto
Que faça feliz
Um amor quem tanto espera.
Quem ao coração roga
Tal desgosto
Tanto espera a liberdade
De amar.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

POESIA

UMA PALAVRA

Uma só palavra escrevi hoje em meu diário.
Tão agressiva se comparando às nuvens que passam
E tão esquecida pelos meus demônios.
Uma só palavra sem vírgula e ponto
Entre o brilho tênue de uma estrela
E a evocação de um anjo.
Um olhar me veio como resignação
Como grito de dor após a ferida
Fez-me sentir estranho no vago infinito.

Escrevi uma única palavra farta de graça
E tão crassa.
Qual ferida que não sara e arde sem chama
E com os olhos se movendo em segredo
Em direção de um espaço a meia-luz
Bailarina cheia de luxúria ao vento
E passos leves e noites e noites
Espiando a lua pálida e sem voz.

Uma única palavra ainda incompleta
Fez-me silenciar o desejo ardente.
Da frágil escultura a deslizar-me na retina
A eloqüência da alma sem nada que consente
O lado oculto de um homem sem a ilusão de si
E sem a certeza de que tudo vaga sem amor
E tudo se esvai na incerteza de que a vida
É um passo a frente sem nada sentir.

Uma palavra sem data ou sem verso
Semelhante a uma serpente voraz
Que insinua roubar a esperança
De um espírito olhando sobre espelhos frágeis.
Qual mistério seguir além das chamas
Cobrindo a embriaguez da pálida alma
Entregue aos doces prazeres do amor.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

GEORGIA


GEORGIA

A vida é assim tão bela
E os nossos pensamentos, os mais belos.
Se o destino nos é semelhante
Não há razão para deixarmos de amar.
A nossa vida é realmente bela .
E o nosso destino é amar.

sexta-feira, 27 de março de 2009

POESIA


DESEJOS

Eu queria ter os olhos
Semelhantes aos lírios do campo
E olhar para uma alma descrente
E contagiá-la a viver.
A ter certeza de que a vida é esperança
Que é possível a imagem lúcida de uma vida
Sem a necessidade de crucificá-la.
E que a solidão não seja a perdição
Para a salvação da alma.

Eu queria ouvir uma palavra amiga
Que me desse bons conselhos.
E sem se ater em revelar as proezas do espírito
Nas manifestações lúdicas
Da sabedoria nas pequenas coisas
Que abrandam a melancolia
Através de uma chama constante de alegria.

Eu queria ter olhos irresistíveis
Que enxergassem além de minha descrença
Nas realizações mundanas.
Se eu pudesse enxergar da minha janela
A metamorfose de uma borboleta voando livre
Em poucos segundos soltaria a voz de triunfo.

Eu queria que meus olhos fossem espaços
E não fragmentos olhando para o céu.
Bom seria nem imaginar a cegueira!
Esquecer que existo ou manifestar minha fé
É uma chama que me consome
Se de meus olhos pudessem recolher
A sensibilidade que existe nas pequenas coisas
Ao menos um poeta eu seria
Em minhas breves aparições.
IMAGEM:

terça-feira, 10 de março de 2009

Conto


PREMONIÇÃO

Logo que deixaram o altar da Igreja do Divino Salvador, Sálvio e Patrícia se entreolharam fixadamente, procurando um lugar aconchegante para a lua-de-mel. Uma semana antes do casamento, haveriam romancear em uma praia deserta, só os dois, aventuras sentimentais, desejos ardentes, o mar cheio de sol, o batismo nas ondas, libertinagem, coisas de um jovem casal; ele com trinta e um anos, ela vinte e quatro, tudo nos conformes. Como um dia após outro, Sálvio teve uma visão em sonhos, e sugeriu que desistissem de irem à praia, pois se fossem uma tragédia tirar-lhes-iam a vida, através de uma forte colisão, e sugeriu que passassem a lua-de-mel em um confortável motel, o que Patrícia não quis, sugeriu o lar doce lar, o cheiro novo das mobílias novíssimas, a linda cama-box. Patrícia, de alegre e disposta, foi mudando a feição, apertou os lábios e vendo que o olhar do marido não se desvencilhava dos olhos dela, beijou-o com ar de desconfiança e puxou-o pelos braços em direção ao carro que os levaria ao salão de festas para a recepção aos convidados.
Mulher magra e seu corpo fino e frágil lembrava muito a cintura de uma sereia em movimento, era pelo menos para Sálvio, a moça mais linda que jamais existira. Os olhos verdes de um verde do mar reluziam o bastante para provocar os ciúmes de Sálvio quando ela olhava para as outras pessoas. A primeira vez que ele a viu, até desprezou-a, tinha pouca carne para o gosto dele. Depois de se conhecerem mais, Patrícia se apresentava, dia a dia, muitos sinais de mudança e sempre mais bonita, mais atraente. Sálvio era alto, mais rico em carnes, tinha uns olhos castanhos destoantes e infiéis; a vez que se conheceram era mais magro, Patrícia muito se impressionava com as linhas do corpo de Sálvio, com a ampliação do corpo, era viver juntos, dia a dia para saber o que o futuro os reservava. Patrícia tinha horrores ao excesso de carne...
Patrícia apertou os lábios, como de hábito, com um lindo buque de flores na mão, olhos no marido, olhos nos convidados. Estava tensa, Sálvio pediu calma.
_ Precisamos de uma conversa agora, meu amor! – asseverou Sálvio. Patrícia estancou o olhar no marido, examinando-lhe as rugas, o nariz grande, as orelhas enormes.
_ Meu amor, você está tão diferente! – exclamou ela.
Sálvio se concentra, aperta a gravata, e solta o paletó, procura disfarçadamente dominar uma voz interna, segura nas mãos de Patrícia, puxa-a em direção ao seu corpo dele e beija-a, sufocando-a. “Ainda não se vestiu?”.
_ Não vai colocar os sapatos novos, não? – indagou o moço, com se exposto ao vento gelado e o coração disparando.
_ Quem suportaria casar com alguém como você? Ironizou Patrícia. “Olhei os meus sapatos pela última vez, ontem”. “Um lindo par de sapatos marrom, número trinta e oito, bico bem agudo”. Pernas trêmulas, se esvai um pouco do marido, e põe-se a conversar com uma velha amiga de colégio, a Alice Maria, depois vai à direita, vai à esquerda e retorna ao marido. “Vamos falar de romance!”
_ Confesso, estou um pouco perdido, penetro numa idéia nova a cada vez que nos vemos. – disse Sálvio.
_ Então? Vamos viajar ou não? – perguntou a noiva.
_ Desculpe, é que estamos marcados para morrer se formos...
Por algum instante, Patrícia achou que tudo aquilo era bobagem, mas pela expressão grotesca do marido, o olhar perdido num infinito de estrelas e espectros esvoaçantes de um vermelho vivo misturando à paisagem hibernal dos meses de junho e julho, resolveu insistir uma única vez, se o marido assentisse tudo bem, senão, um motel seria bastante sugestivo. Uma noite de amor e tanto, o gosto de estar vivíssima para o marido, era tudo que Patrícia queria. Para que a vida valesse a pena naquele instante de incômodo era preciso Sálvio sair do estado de inércia...
_ Talvez seja meio difícil eu te explicar isto – continuou ele.
_ Então? Vamos viajar ou não? – repetiu a noiva. Sálvio olhou em volta, e para não deixar a mulher triste, concordou em passarem a lua-de-mel numa praia deserta. Um último olhar sobre os convidados selou o destino daquele jovem casal. Precisavam viver juntos, quando se olhavam um no olho do outro, um novo horizonte se lhes avivava. “Não vivemos como queremos, mas como podemos.” A mão de Patrícia se aninhou na de Sálvio, era pouco mais de onze horas de uma noite sem nuvens e muito brilho. O jovem casal ia avançando em direção ao carro quando os vi pela última vez. Pude usufruir da totalidade daquele instante, no íntimo, desejava que fossem felizes para sempre. Meia noite e meia veio a notícia que abalou toda a cidade, pensamentos criam vida ou desenhamos argumentos, pintamos tantas palavras para avivar o nosso subconsciente, mas no fundo de nós, é bom viver as coisas boas da vida, só assim podemos deixar um rastro de luz onde passamos...

domingo, 1 de março de 2009


Congratulação

As luzes da cidade acesas em evidente eufemismo
Amanhecer em névoa, chuva sem fim
E olhos erguidos, em aparente dinamismo de pensamentos
Observam o dilúvio
Passos apressados para chegar ao destino!
Imagem e apocalipse
Afoitos recortam as mais adormecidas cenas
E colam em diários tão breves,

Param na esquina congestionada
Observando a passagem dos autos
O corpo molhado planejando investidas
Sobre a rua vazia e a distância
Entra à direita como se entrasse à esquerda
Observam o crepúsculo, a brevidade eterna
A chama oculta da natureza
Sem perceber que tudo são vaidades.

A janela com vidros estilhaçados
São motivos, reinvenções de tempos
Tempos frios, medo de espectros íntimos
Medo de invenções futuras.
O mero acaso são apenas atitudes para renovar
As incertezas de cada novo amanhecer.

Os olhos recortam as imagens as mais esdrúxulas
Recortam as paisagens, inventam histórias
Seguem como se tudo estivesse normal
Como se os constantes granizos fossem invisíveis
E o infinito, apenas um além das estrelas.
Era uma vez e nada mais.

Tão dispersos já não ligam para nada
A embriaguez os deixa sem vida
Indiferentes quanto às confidencias
Vestem-se elegantemente
E recortam bons momentos
E não choram como dantes.
Borboletas extravagantes passam
Ninfas desnudas, bicicletas velozes...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009


TRAVESSIA

A guerra abraça o reino pelos braços
sem licença inventa fatos pra flertar o luxo
De suas vidraças vazias de preces
E instantes de cristais exaustos de luzir.
Em olhar descuidoso aporta o navio,
De tuas brandas paredes descem vultos valentes.

O menino anuncia a catástrofe,
O vento pára a espera das cinzas.
Não há o que de entristar, exceto a estrofe
Que encerra a morte prematura.
Senhor comandante, não é a guerra que me causa Indignação
Não há o querer que afasta a envergadura,
O que me causa a indignação
É o futuro sem o que contar aos mais tenros.
Menino, eis o meu devido serviço:
A busca de almas aflitas pela razão ilusória das Coisas.
Não tarda a noite nos aportaremos no infinito dos mares.

Não há mar, não há razão em navegar sem o corpo
Em conhecer ilhas e ilhas sem contornos nem cores.
Não há guerra que perpetue o gosto do espírito
Ou ousadia que conforte um alvíssimo leito.
Menino, tua voz é capaz de ofuscar as palavras de Um barqueiro
Que surge com a frágil missão de transportar almas
Pelo vasto infinito das águas.
Senhor, o meu reino está frágil e as vidraças já não resistem
Às investidas de tantos malfeitores.
Menino, o navio que aqui aporta é de louça, Caravela ao vento
E tão habituado a procelas e sentenças.
Malfeitores não há.
Não invente histórias para aterrorizar uma vida de travessia
O céu começa onde termina o inferno.
Se queres dormir em noite tão profunda
Busque antes a utopia, a visão estranha das coisas.

E antes que eu descerrasse meu derradeiro olhar
A lógica da vida assumiu meu corpo
E inúmeros fractais cobriram-me a visão.
A lembrança fria da guerra, das pétalas voando livres
Da vidraça partida pela veloz artilharia
Outros fatos já não importam.
Haverá outro mundo onde as pessoas possam se confraternizar
Sem ouvir o estampido das ignorâncias.
Razão não há para ignorar a partida de um navio
Cuja missão é apenas compartilhar a travessia.

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Meu nome é Antonio, sou professor de Português e Literatura, gosto de ler, escrever, assistir a bons filmes, de futebol, de arqueologia, de história, filosofia, de mitologia, de informática, de astronomia, de manifestações culturais locais,de boas amizades, de falar e ouvir, enfim...